“Salvadora não voltará para casa, o silêncio cruel de um feminicídio em Corumbá”
Era por volta das 8h da noite de sábado, 2 de agosto, quando a calmaria da Fazenda "vai quem quer", na região do Passo do Lontra, foi rompida por um estampido seco e fatal. Mais uma mulher, mais uma mãe, mais uma vida ceifada. Salvadora, de apenas 22 anos, foi morta com um disparo de arma de fogo, supostamente efetuado por quem dizia amá-la.
Na chegada da guarnição do 6º Batalhão de Polícia Militar, comandada pelo sargento Ramirez, a cena já era de devastação, a jovem estava deitada sobre a cama, imóvel, sem sinais vitais. No peito, abaixo da clavícula esquerda, uma perfuração de arma de fogo revólver calibre 22, ferida aberta não só em seu corpo, mas na história de sua família e na alma de uma sociedade que parece não aprender.

E ali no cômodo de uma casa simples, no banheiro, estavam cinco crianças de 2-8 anos que supostamente presenciaram a morte de sua mãe, um momento de terror que nunca sairá de suas lembranças.
O suposto autor, identificado apenas pela inicial J. C. S (32), ainda estava na dentro da casa. Foi detido. Mas nenhuma prisão será capaz de devolver a vida à Salvadora.
O autor ainda teve a displicência de dizer,
“Eu fiz senhor! Eu fiz uma cagada”
Guarnições do 3º Grupamento de Bombeiros também chegou ao local, levando consigo a comunicante que ajudou a guiar os militares até a cena do crime. No entanto, ali, nada mais havia a ser feito. A morte já havia selado seu decreto.
Cinco crianças, sim, cinco crianças assistiram ou ouviram o momento em que o mundo delas desabou. Choravam. Aquelas lágrimas, mais do que qualquer palavra, contavam a tragédia que nem mesmo o tempo poderá apagar. Levadas pelos bombeiros até a casa de parentes em Ladário, as crianças agora enfrentam um vazio que não tem nome.
Quem irá explicar a elas, na próxima festa da escola, por que todas as outras mães estarão lá, menos a delas? Quem irá segurar suas mãos nos aniversários, nas noites de febre, nas dúvidas da adolescência? Quem irá consolá-las quando, ao olharem para o lado, enxergarem a ausência estampada no lugar onde a mãe deveria estar?
O Dr. Delegado de polícia Guilherme de Oliveira e sua guarnição chegaram juntamente com a perícia técnica, que realizou os procedimentos no local, e uma funerária foi acionada para o translado do corpo até o Instituto Médico Legal de Corumbá. Mas nada do que se possa escrever em um laudo ou registrar em um boletim apagará o grito sufocado daquela noite.
Já na delegacia, foi constatado que o autor já tem um mandado de prisão em seu desfavor.
A pergunta ecoa, uma vez mais, como um soco no peito:
ATÉ QUANDO?
Quantas Salvadoras mais precisarão morrer para que o país leve a sério o terror do feminicídio? Quantos filhos mais terão que crescer órfãos de mãe porque o amor foi confundido com posse, com controle, com violência?
Salvadora agora é número nas estatísticas. Mas era vida. Era sonho. Era mãe. E foi assassinada.
Que seu nome nunca seja esquecido. Que sua ausência nos machuque tanto a ponto de exigirmos mudança. E que as lágrimas que hoje caem, sirvam de semente para uma sociedade onde nenhuma mulher precise temer voltar para casa.
Se você sofre violência ou conhece alguém nessa situação, denuncie. Ligue 180. O silêncio também mata.